PAULO BERGAMASCHI

( Brasil  – DISTRITO FEDERAL )

BERGANASCHI, Paulo.  Recado à Brisa.  Poesia. Apresentação por Napoleão Valadares,  Capa, projeto gráfico e diagramação. Brasília:  Athalaia Gráfica e Editora, 2018.  120 p.  ISBN-978-85-920121-0-6       Doação do livreiro BRITO / DF

        LEVE LEVITAR

Um dia
lançando-me no cais da memória
soube-me pássaro
ponta de nuvem
mera vertigem
a desvendar o porto seguro
que delineava a areia movediça
da minha história

Mergulhado no mar da desilusão
coube-me então,
o peso do vagar pelo verbo:
tão desgastado pela sina do tempo
in natura.

Era enfim,
um leve sabor de caos
a murmurar qualquer vestígio da utopia
(perdida na brisa)

tal a leve lembrança do mar.  



DESALINHO

De repente
tudo ficou em desalinho
o vento
a correnteza do verbo
a calmaria

De um súbito olhar
de cada passo
uma árvore em meu ser
Solidão
resto de cais
leve defenestrar de valores e
valores
(tão calcados no sumo do tempo —calçados)

Tudo tão lépido
e ambíguo...
esse deixar-se na textura do algodão, a espreitar...
Até que se refaça, da semente,
a calmaria.



ESPELHO DA NOITE

De dentro do espelho da noite
o dia já desvenda seus metais:
mesa gesto cor
vida sermão olhar
se acende agora no corpo
fog facho sexo estelar
Onde se fabrica ao desejo
língua
           lábio
                      olhar
Bicho de engendrar-se
no girassol do instinto
minete serra vertigem
rosto corte azinhavre
manhã que jorra seu fel
(na tarde que morre no mar)
Crepúsculo semente ferida
boca silêncio oráculo
Pele da noite
pétala que arde
desejo corpo mel.

PINGO VERDE

A poesia
quer a natureza
do seu verso livre
a correr verdemente
entre nuvens

Por ora,
um pingo de verso
se revestes em ninho de nuvem
pra fazer brotar
em chuva futura
a esperança humana.

*

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Página publicada em maio de 2023